No último dia 9 de setembro, um trabalhador rural foi esfaqueado durante uma discussão política por um apoiador do Presidente brasileiro Jair Bolsonaro no estado de Mato Grosso do Sul. Há pouco mais de um mês, no Paraná, um bolsonarista armado invadiu uma festa de aniversário no Paraná e executou um pai diante de toda sua família. As imagens do crime foram registradas por uma câmera de segurança e chocaram todo o Brasil.
Há também casos que não chegam as vias de fato – por sorte ou falta de oportunidade para o agressor. Há poucos dias, durante uma agenda de rua, eu e Ediane Maria, minha colega do Partido Socialismo e Liberdade, fomos ameaçados por um homem armado que se declarou apoiador do Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, ao receber um panfleto da nossa campanha. O incidente aconteceu em São Bernardo do Campo, cidade vizinha a São Paulo, e já está sob investigação do Ministério Público Eleitoral.
Longe de serem novidade, esses episódios espalhados pelo Brasil são apenas alguns na extensa lista de casos de violência política que têm como grande responsável o Bolsonaro e sua retórica de agressão a quem pensa diferente.
Muito antes de chegar à presidência, Bolsonaro já era conhecido por suas posições de extrema-direita e por seu alinhamento ideológico à linha-dura do regime militar instalado pelo golpe de 1964. Dizer que “não estupraria” a uma deputada federal “porque ela não merecia”, e defender o fuzilamento de opositores. Esses são apenas alguns poucos exemplos que ilustram a personalidade autoritária deste ex-militar.
Ciente desse histórico, a elite econômica brasileira ainda assim optou por trabalhar em seu favor nas eleições de 2018, apoiando a prisão fraudulenta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para retirar sua candidatura do páreo. Assim, abriu-se caminho para a eleição de um nome que, eles imaginavam, poderiam controlar ao longo dos quatro anos seguintes.
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Mas desde que chegou ao Palácio do Planalto, Bolsonaro só se tornou mais descarado em seu exagero autoritário. Suas falas agressivas e irresponsáveis têm escalado o clima de violência e estimulado milhões de apoiadores em todo o Brasil a confrontar com violência quem discorda democraticamente dele. Foi neste clima que recentemente a campanha de Lula, o principal rival de Bolsonaro nas eleições de outubro, teve de reforçar com snipers a segurança de um comício em Belo Horizonte após identificar ameaças bolsonaristas.
Após quatro anos de ataques às nossas instituições e valores, não parece surpreendente que Bolsonaro agora ameace a própria democracia brasileira. Nisso, ele é a imagem de seu ídolo, o ex-presidente dos EUA, Donald Trump. Mais do que uma inspiração, Trump é também o norte ideológico do Bolsonarismo. Ele questiona repetidamente a confiança na internacionalmente elogiada urna eletrônica brasileira, e diz só aceitará o resultado das eleições se elas forem “limpas”; traduzindo, se os brasileiros derem a vitória ao próprio Bolsonaro.
Ao contrário de Trump, no entanto, Bolsonaro conta com apoio de setores militares, muitos dos quais atuam no governo do presidente. Pouca gente ainda minimiza a seriedade das intenções golpistas do bolsonarismo, mas ainda há quem veja em suas declarações preocupantes apenas um grande blefe. O fato é que Bolsonaro, uma vez derrotado nas urnas, como todas as pesquisas eleitorais prevêem, buscará um caminho de ruptura e deve recorrer à violência para concretizá-lo. Toda a questão é se terá força e apoio suficiente para levar a cabo. Hoje, ao que tudo indica, não teria. Mas isso não deve levar a uma subestimação dos riscos.
Nas últimas semanas, aliados de Bolsonaro nas Forças Armadas conseguiram impor ao Tribunal Superior Eleitoral uma “fiscalização paralela” do processo eleitoral, abrindo margem para questionar, dentro de uma combalida institucionalidade, uma votação desfavorável ao atual presidente no dia 2 de outubro.
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Mais do que isso, Bolsonaro está aprofundando a sua estratégia: sua família intensifica suas associações a criminosos milicianos—divulgadas em jornais brasileiros, embora negadas pelo próprio presidente—e conclama a população civil a se armar para unirem-se, juntos, nas ruas e resistir a uma derrota no voto popular.
Se isso acontecer, há um elemento decisivo para garantir a democracia e impedir o crescimento da violência política: a mobilização social nas ruas. Precisaria ser incentivada e redobrada até que Bolsonaro deixe a cadeira de presidente.
Também é com o povo se manifestando nas ruas que ampliaremos ainda mais a vantagem de Lula já no primeiro turno, o que dificultará a disseminação de mentiras sobre a legitimidade do voto por Bolsonaro. É dialogando com aqueles que ainda estão indecisos que disputaremos a consciência da população: em defesa de um projeto de país democrático e anti-fascista, onde as divergências sejam resolvidas no diálogo, e não à bala.
Só assim colocaremos o Brasil de volta num caminho democrático e de Justiça social. Só assim a Amazônia e nossa biodiversidade estarão seguras da sanha do desmatamento. Só assim o Brasil voltará a ser respeitado e admirado no cenário internacional. Faltam poucos dias para as eleições mais importantes do nosso país desde a redemocratização.
Boulos é candidato a deputado federal (PSOL) por São Paulo e coordenador-nacional do Movimento Dos Trabalhadores Sem Teto
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